28 de março de 2009

A sociedade no tempo de Jesus

Jesus foi uma pessoa como qualquer um de nós, que viveu dentro de um determinado tempo da história. Ele viveu concretamente em um país, pertencia a uma família, trabalhava, tinha posicionamento político, uma situação econômica, uma língua e uma religião.

Situação econômica
A maioria da população era pobre e vivia principalmente da agricultura (trigo, cevada, azeite, legumes etc.), pecuária (bois, camelos, ovelhas etc), pesca e artesanato.
Nos povoados os Romanos cobravam IMPOSTOS: a) ¼ (25%) sobre a colheita; b) a corvéia para manter o exército; c) pedágio e alfândega sobre o transporte de mercadorias. Quem fazia a cobrança eram os Publicanos, que eram muito corruptos. Isso levou o povo a desprezar e marginalizar essa categoria (Mc 2,15-26).
Era obrigatório também o Dízimo para o Templo, em Jerusalém: a) 10% das colheitas; b) 1% para os pobres; c) a cada 7 anos, o produto referente a um ano de trabalho.

O Templo como sede do poder econômico

O templo era o banco central e centro de câmbio (troca de moedas). Todos os impostos eram centralizados ali. Graças às peregrinações, os visitantes (mais ou menos 60 mil durante a Páscoa) alimentavam um comércio de lembranças, artesanato e objetos de luxo. Havia um conjunto de hospedarias e comércio de animais para os sacrifícios. O templo era uma fonte de empregos: entre sacerdotes, funcionários, cambistas, vendedores e operários eram 18 mil pessoas que viviam da organização do Templo.
O Templo havia deixado de ter significado religioso para sustentar a dominação. Quando Jesus combateu o templo, foi pensando no sistema econômico que se apoiava nele. Esse foi um dos motivos de sua condenação (Mc 11,15s).
Situação econômica de Jesus: veio do campo, duma aldeia humilde chamada Nazaré. Seus moradores eram marginalizados, tratados como ignorantes e bandidos (Jo 1,46;7,52). Jesus era carpinteiro ou biscateiro. Pagava impostos aos sarcedotes e aos romanos (Mc 12,13s).

Situação Social
A maior parte da população da Palestina vivia no campo e era constituída de trabalhadores pobres, que sobreviviam no ganho do dia-a-dia. Os ricos moravam só nas cidades. Havia uma classe média pouco numerosa. Nela se encontrava os Escribas e Farizeus.
Família: era patriarcal. Na Palestina o pai era o centro da família: tinha plena autoridade sobre a casa.
Mulher: não participava da vida da sociedade. Era considerada inferior ao homem em todas as coisas. As filhas não tinham os mesmos direitos que os filhos. A mulher precisava ser fiel ao marido, sob pena de morte, mas o marido podia ter outras mulheres além da esposa. Não podiam ler no culto. Não podiam estudar e ser discípula. No tribunal, a mulher não podia ser testemunha.
Pessoas excluídas da sociedade: Mulheres, doentes (surdos, mudos, cegos, leprosos etc), pagãos, escravos, estrangeiros, publicanos.

Alguns grupos sociais
Saduceus: Pertenciam a camada mais rica da Judéia. Tinham, portanto, o poder econômico em suas mãos. Por um lado, esse grupo era formado pelos grandes proprietários de terra e pelos donos do grande comércio. Formavam a elite leiga e rica que considerava sua riqueza sinal de bênção de Deus. Os saduceus eram defensores da ordem estabelecida. Colaboravam com o Império Romano para não serem destruídos de seus cargos. Eles tinham privilégios a defender, especialmente sua situação econômica, seus cargos e seu poder no Templo. Eles não aceitavam a tradição oral, apegando-se somente à lei escrita no Pentateuco (5 primeiros livros da nossa bíblia).Esperavam o Messias numa aparição gloriosa.
Fariseus: Na sua maioria, o grupo dos fariseus era formado de pessoas leigas. Sua origem eram todas as camadas sociais, mas sobretudo, das camadas médias. Também, a maior parte dos Escribas, especialistas nas escrituras, pertencia ao grupo dos Fariseus. Por seu saber bíblico, estes eram as maiores lideranças nas sinagogas (comunidades). Eram guias espirituais das comunidades. Seu conhecimento das leis e do hebraico, como especialista em direito, administração e educação, também lhe assegurava lugares importantes no Sinédrio. De um modo geral, eram nacionalistas. Por isso, eram contra a presença de povos estrangeiros, considerando-os impuros (At 10,11-16). Valorizavam a tradição oral dos antepassados. Achavam que o messias viria como um guerreiro para expulsar os romanos.
Com o tempo, viraram fanáticos. Insistiam em coisas exteriores, visíveis (ex: a observância do sábado, do jejum, da esmola, circuncisão etc). Faziam tudo isto para mostrar que eram judeus observantes da lei de Moisés e de outras prescrições impostas pela tradição. Eram rígidos nas suas posições. Oprimiam a quem não seguisse seu fanatismo. Prendiam-se às exterioridades, mas deixavam dominar-se pela injustiça.

Escribas ou Doutores da Lei: O povo tinha veneração pelos escribas, por serem especialistas nas escrituras. Mas também tinha medo deles, pois passaram a exercer um controle ideológico. Eram eles que diziam o que era certo ou errado, bom ou mau, santo ou profano. Muitas vezes estavam ligados à classe dominante. Muitos fariseus eram escribas (Mc 2,16; 7,5). Os farizeus e os escribas tornaram-se “donos” da consciência do povo, impondo suas idéias.

Sacerdotes: O Sumo-sarcedote controlava o Templo e através dele, toda a vida econômica do país. Os romanos deixavam que os sacerdotes tomassem certas decisões econômicas, contanto que eles dessem o dinheiro exigido por Roma. O culto era um instrumento ideológico, muito baseado no puro e no impuro. Puro era quem ia ao Templo (pagar seus tributos). Os demais ...
O Sinédrio: ou grande conselho era responsável pela administração da justiça em Israel. Era o supremo tribunal político, criminal e religioso. Foi esse tribunal que resolveu entregar Jesus aos romanos para que fosse eliminado (Mc 14,55). Era composto de 71 homens e funcionava numa sala junto ao Templo. O chefe era o sumo sarcedote indicado pelo procurador romano da ocasião. O grande sacerdote era o responsável não só pelo Sinédrio, mas também pelo culto no Templo, pela segurança no santuário, pelas finanças do Templo e pelo comércio que aí se fazia. Faziam parte desse tribunal: os Sarcedotes, os Escribas (por causa do seu saber a respeito da Lei ou Tora), os Saduceus (grupo de maior influência).

Samaritanos: eram considerados raça impura pelos demais judeus, por serem descendentes de população misturada com estrangeiros. Os samaritanos se julgavam israelitas autênticos, veneravam Moisés e esperavam o Messias. Por serem marginalizados, tinham pouca influência sobre a maneira de pensar do restante da Palestina. Jesus diz que os samaritanos, longe de serem impuros, podiam ser modelos de pensar, agir, amar e rezar (Lc 10,33s).

A situação política
A Palestina era dividida em dois territórios: a) a Judéia e a Samaria, ao Sul. b) a Galiléia, ao norte.
Na Judéia e na Samaria, havia um procurador romano, ou seja, alguém que governava em nome do Imperador romano. Morava na cidade marítima Cesaréia (na Samaria). Na Judéia e na Samaria, o Procurador romano deixava o Sinédrio exercer o poder. Nomeava o Sumo Sacerdote e só intervinha quando havia protestos populares.
A Galiléia tinha um Rei que, na época de Jesus era Herodes, Morava em Tiberíades. Herodes era amigo de César, o Imperador Romano, e para não perder o seu cargo, fazia de tudo para agradá-lo.



Fonte:

Gass, Ildo Bohn. Uma introdução à Bíblia. Período grego e vida de Jesus. 2ª ed. v.6. São Paulo: Paulus/CEBI, 2007.

14 de março de 2009

O Nascimento de Jesus

Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, o grande, que os romanos haviam designado para governar a Judéia. Os calendários são contados a partir do ano em que se supõe ter nascido Jesus, mas as pessoas que fizeram essa contagem equivocaram-se com as datas: Herodes morreu no ano 4 a. C., de modo que Jesus nasceu 3 anos antes, a quando dos censos do povo Judeu, que ocorreu, exatamente, 1 ano após os censos dos outros povos também subjugados ao poder Romano. Estes censos ocorreram para facilitar aos Romanos a contagem do povo e a respectiva cobrança dos impostos. Os Judeus sempre se opuseram a qualquer tentativa de contagem, por essa razão, esta ocorreu um ano depois de ter ocorrido nos povos vizinhos. Desde o século IV os cristãos festejam o Natal, ou nascimento de Cristo, no dia 25 de dezembro. Esta foi uma adaptação das festas ao deus Sol dos povos pagãos, adquirida pelos Romanos. A data real ainda é incerta.

8 de março de 2009

Encontro - Páscoa e Campanha da Fraternidade 2009









QUARESMA

O que é a Quaresma?

A palavra Quaresma vem do latim quadragésima. São os dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até a Quinta-feira Santa, antes da Missa da Ceia do Senhor. O número 40 é simbólico e recorda muitas cenas da bíblia: os 40 anos de caminhada do povo hebreu pelo deserto, os 40 dias que Moisés passou na montanha,os 40 dias da caminhada de Elias para chegar à montanha do Senhor, os 40 dias de Jesus jejuando no deserto...
A Quaresma não tem sentido isolada da Páscoa. Na caminhada quaresmal não vamos ao encontro do nada ou da morte, mas caminhamos para a ressurreição do Senhor e nossa.

Quando se começou a celebrar a Quaresma?

As origens da Quaresma são antigas e estão ligadas a outros acontecimentos, como a preparação dos catecúmenos ao Batismo e a prática das penitências, como a preparação para os catecúmenos ao Batismo e a prática das penitências, muito em voga nos primeiros séculos. Já no século IV se fala de quarentena penitencial. Antes disso, nos séculos II e III, costumava-se fazer alguns dias de jejum em preparação à Páscoa.

Qual a mensagem da Quaresma?

Podemos resumi-la com frases tiradas das leituras bíblicas da Quarta-feira de Cinzas: “Rasguem o coração, e não as roupas! Voltem para Javé, o Deus de vocês, pois ele é piedade e compaixão, lento para a cólera e cheio de amor...” (Joel 2,13). “Em nome de Cristo, suplicamos: reconciliem-se com Deus. Aquele que nada tinha a ver com o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que por meio dele sejamos reabilitados por Deus. Visto que somos colaboradores de Deus, nós exortamos vocês para que não recebam a graça de Deus em vão. Pois Deus diz na escritura: ‘Eu te escutei no tempo favorável, e no dia da salvação vim em seu auxílio’. É agora o momento favorável. É agora o dia da salvação (2 Cor 5,20-6,2). Quaresma é portanto, tempo de conversão e reconciliação em dois níveis, com Deus e com as pessoas, em dimensão pessoal e social. A dimensão social é reforçada a cada ano pela Campanha da Fraternidade, que geralmente nos alerta de uma carência social.

Por que não se canta Aleluia e o Glória nesse tempo?

Aleluia significa “Louvai Javé”, e é aclamação marcada pela alegria e pela festa. O clima da Quaresma não combina com isso. O aleluia será uma explosão de alegria na Vigília Pascal. Também o Glória é omitido na Quaresma, pelos mesmos motivos.

Qual o significado das Cinzas?

A cinza é o símbolo da fragilidade e pequenez humanas. Exemplo: Gênesis 18,12: “Abraão continuou: ‘Eu me atrevo a falar ao meu Senhor, embora eu seja pó e cinza’”. É um dos mais antigos sinais de penitência. O antigo testamento está repleto de passagens que o confirmam. Por exemplo, Jó diz a Deus: “Eu te conhecia só de ouvir. Agora, porém, os meus olhos de vêem. Por isso, eu me retrato e me arrependo, sobre o pó e a cinza” (Jó 42,5-6). Uma das fórmulas ditas pelo presidente da celebração ao impor as cinzas é esta: “Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar”. Isso recorda a passagem do Gênesis: “Você comerá se pão com o suor de teu rosto, até que volte para a terra, pois dela foi tirado. Você é pó, e ao pó voltará” (3,19).
A outra fórmula para a imposição das cinzas é um apelo à conversão e é tirada de Marcos 1,15: “Convertei-vos e crede no evangelho”.


De onde vêm as cinzas?

São as cinzas dos ramos bentos no Domingo de Ramos do ano anterior.

O que é a Via-sacra e quando surgiu?

Na Quaresma e Sexta-feira Santa costuma-se fazer a via-sacra. A palavra significa “caminho sagrado” (o caminho de Jesus até a morte de cruz). É um ato de piedade – muitas vezes em forma de caminhada – no qual se reza e se medita sobre 14 episódios (estações) da Sexta-feira Santa, desde a condenação à morte até o sepultamento de Jesus. Há vários formulários de Via-sacra, e ultimamente – com muita razão – acrescentou-se a 15ª estação – a ressurreição de Jesus, pois a morte não o venceu ou derrotou. Várias estações desse ‘caminho sagrado’ não são tiradas dos evangelhos (por exemplo, as três quedas de Jesus, a Verônica enxugando o rosto do Senhor etc.).

Por que a cada ano, na Quaresma, temos a Campanha da Fraternidade? Ela ajuda ou atrapalha?

A Campanha da Fraternidade (CF) já completou 40 anos de vida e isso, por si só, é um sinal altamente positivo para chamar a atenção, denunciar, convocar à conversão e suscitar gestos concretos (pastorais e ministérios). Nem sempre o tema da CF coincide com o tema das leituras bíblicas quaresmais, mas há sempre um apelo à conversão que deve ser traduzido em solidariedade e fraternidade. Nossa CF tem inspirado outros países a gestos semelhantes.


SEMANA SANTA

Por que essa semana é chamada de santa?

Porque nela celebramos os momentos mais importantes da nossa salvação. O evangelho atribuído a São João resume desta forma: “Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus enviou o seu filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jó 3,16-17). E também: “Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a sua hora. A hora de passar deste mundo para o pai. Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Com sua entrega por nós, Jesus santificou essa semana, e nós a santificamos em nosso compromisso cristão.

O que Celebramos no Domingo de Ramos?

O domingo de Ramos é o início da Semana Santa. Nesse dia comemoramos a entrada de Jesus em Jerusalém. Os 4 evangelhos narram esse episódio, vejamos Mateus 21, 8-11: “uma grande multidão estendeu seus mantos pelo caminho; outros cortaram ramos de árvores e os espalharam pelo caminho. As multidões, que iam na frente e atrás de Jesus, gritavam: ‘Hosana ao Filho de Davi! Bendito aquele que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto do céu!’ Quando Jesus entrou em Jerusalém, toda a cidade ficou agitada, e perguntavam: ‘Quem é ele?’ E as multidões respondiam: ‘É o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia.’”


O que celebramos na Quinta-feira Santa?

Pela manhã, nas catedrais, o Bispo com os sacerdotes preside a Missa do Crisma. Há duas coisas a serem recordadas. 1º - Esse dia é conhecido como o da instituição do sacerdócio e da eucaristia. O bispo preside a eucaristia com seus sacerdotes celebrantes, manifestando a unidade do seu sacerdócio com o único Sacerdócio de Cristo. 2 – Essa missa é chamada de Missa do Crisma, porque nela são abençoadas o óleo dos Catecúmenos e o óleo para a Unção dos Enfermos, e o bispo consagra o óleo do Crisma. Esses óleos são levados para as paróquias e usados na administração dos sacramentos.
Ao entardecer, começa o Tríduo Pascal, com a Celebração ou Missa da Ceia do Senhor. Nela há o rito do Lava-pés. Partimos da Páscoa judaica (1ª leitura), chegamos à Páscoa de Jesus – a eucaristia (2ª leitura) – e entendemos que a Eucaristia/Páscoa de Jesus é serviço de quem ama até as últimas conseqüências do amor – dar a vida. De fato, o Lavar os pés (leitura do evangelho) é apenas o começo do amor que dá a vida. O lava-pés-serviço termina na cruz (Sexta-feira Santa), quando Jesus diz: “Tudo está consumado”, e entrega o espírito.

O que celebramos na Sexta-feira Santa?

Na Sexta-feira Santa não há Eucaristia (missa). Normalmente às 15 horas, nas igrejas celebra-se a Paixão do senhor, com as seguintes partes: Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz, Comunhão. A Liturgia da Palavra é sempre a mesma: Is 52,13-53,12; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jô 18,1-19,42. Terminada a leitura da paixão, vem a prece Universal e a Adoração da Cruz. A palavra “adoração” é um tanto imprópria, pois a adoração é dirigia a Jesus. Honramos sua cruz, pois foi nela que ele nos salvou. A última parte á a comunhão. A assembléia se retira em silêncio após ter sido invocada sobre ela a bênção de Deus. Muitas comunidades celebram também a via-sacra, que também pode ser encenada.

O que é a Vigília Pascal?

É a noite Santa da ressurreição do Senhor. É celebrada depois do anoitecer do Sábado Santo e antes do amanhecer do Domingo da Ressurreição. É a “mãe de todas as vigílias”, nela a Igreja espera, velando, a Ressurreição do Senhor.

Quais são as partes da Vigília Pascal?

1ª – Celebração da Luz: com a benção do fogo novo, a preparação do Círio Pascal, a procissão para o interior da Igreja e a proclamação da Páscoa.
2ª – Liturgia da Palavra: sete leituras do Primeiro Testamento com seu Salmo e oração, canto do Glória, epístola, canto do aleluia e evangelho.
3ª – Liturgia batismal: ladainha dos santos, bênção da água batismal, renovação das promessas do batismo.
4ª – Liturgia eucarística: a missa prossegue da Apresentação da oferenda em diante.

Por que tantas leituras na Vigília Pascal?

As leituras nos oferecem uma panorâmica da história da Salvação, desde a criação até a nova criação realizada na morte-ressurreição de Jesus. Grosso modo, representam as várias etapas dessa história. De fato, parte-se do Gênesis 1,1-2,2 , onde “tudo era bom” (1ª leitura). No sacrifício de Isaac e na fé de Abraão (Gn 22,1-18) estão prefigurados o sacrifício de Jesus e a adesão dos fiéis, pela fé em Cristo, ao projeto de Deus (2ª leitura). A libertação de Israel da escravidão (Ex 14,15-15,1) anuncia a libertação definitiva em Cristo e a “passagem” dos Cristãos da morte à vida (3ª leitura).
As crises de Israel no exílio da Babilônia (Is 54,5-14) suscitam a memória do amor perene de Javé por seu povo (4ª leitura). As promessas de Deus se cumprem na história, fecundando de esperança a vida das pessoas (Is 55,1-11), e essas promessas atrairão todos os povos a deus (5ª leitura),
Quem foi infiel: Javé ou Israel? Baruc (3,9-15.32-4,4) exorta Israel a tomar consciência do que fez, convidando-o ao arrependimento (6ª leitura). Esgotados todos os recursos para salvar o povo, Deus anuncia a nova aliança (Ez 36,16-17ª.18-28), na qual ele será nosso Deus e nós seremos seu povo (7ª leitura). Essa nova aliança foi selada na morte-ressurreição de Jesus (leitura do evangelho) e nós a renovamos em nosso Batismo (Epístola, Romanos 6,3-11). Com o anúncio vitorioso: “Ele ressuscitou! Não está aqui!”, os cristãos começam a celebrar o memorial da presença de Deus no meio do povo (Eucaristia).
Cada uma das 7 leituras vem acompanhada do salmo de resposta (responsorial) e uma oração.


Quais são os principais símbolos da Vigília Pascal?

1) O FOGO. Na bíblia, o fogo é sinal da presença de Deus no mundo (1Reis 19,12), é expressão de santidade e transcendência divinas. Vários profetas têm sua vocação associada ao fogo, por exemplo, Isaías (6,6), Ezequiel (1,4), Eliseu (2Reis 2,11). Avocação de Moisés igualmente (Ex 3,1ss). Na liturgia da Vigília Pascal, acende-se um fogo (fogueira) fora da igreja. Esse fogo representa a vida nova conseguida na ressurreição de Jesus. Esse fogo novo – símbolo da ressurreição – é abençoado, e com ele acende-se o Círio Pascal.
2) A LUZ. A luz, primeira criatura de Deus, é força fecundante, condição indispensável para que haja vida. Opõe-se às trevas, símbolo do mal, da não-vida, da infelicidade. Na Bíblia o próprio Deus é luz (Salmo 27,1; Isaías 9,1 etc.). Jesus se auto definiu a luz do mundo (Jo 8,12; 9,5). A vida inspirada pela fé é um “caminhar na luz” (1 Jo 2,8-11). O Círio Pascal, expressão do cristo ressuscitado, é aceso no fogo novo e , partindo dele, irradia-se a luz da ressurreição, que vai rompendo as trevas. Primeira criatura da criação, a luz do Círio é princípio de nova criação, inaugurada com a vitória do primogênito dentre os mortos.
“Dentre todos os simbolismos que derivam da luz e do fogo, o Círio Pascal é a expressão mais forte por sua riqueza de significados. É a fusão da lua cheia de Nisan (símbolo da salvação pascal) e o rito da luz (quando, à tardinha, os hebreus acendiam as lâmpadas), que é uma ação de graças pelo dom da luz. Representa Cristo ressuscitado, vencedor das trevas e da morte (cravos no Círio), Senhor da História (os algarismos), princípio e fim de tudo (A e Z), sol que não conhece acaso. É aceso com o fogo novo, produzido em plena escuridão, pois na Páscoa tudo renasce”.

3) A ÁGUA. A água é símbolo da vida. Purifica, regenera, salva (hidroterapia). “Representa a eficácia do sangue de redentor de Cristo, comparado à água que lava. A imersão do Círio Pascal na água é a união do elemento divino com o humano, a força fecundante de Cristo, gerador de vida nova, para que todos os se banharem nessa água fecundada se tornem filhos de Deus”.


PÁSCOA

O que significa Páscoa?

É uma palavra vinda do hebraico, a língua do Primeiro Testamento, e significa “passagem”. Ainda hoje é a festa mais importante do povo judeu, e é o eixo central da fé cristã. A Páscoa cristã nasceu da Páscoa judaica, que tem suas raízes numa festa ligada aos pastores.
Os pastores, na antiguidade, não possuíam terras, somente rebanhos. Páscoa para eles era a passagem de uma pastagem a outra com suas cabras e ovelhas. Nessa ocasião, imolavam cordeiros à divindade, ungindo com sangue as estacas das tendas, para afastar o mau olhado e os espíritos maus que tornavam o rebanho estéril.
Os Hebreus adotaram essa festa antiga e a transformaram na grande festa da independência, ou seja, começaram a comemorar nesse dia a saída do Egito escraviza dor, atravessando o mar vermelho, rumo à terra da liberdade e da vida. A Páscoa é, portanto, passagem da escravidão á liberdade, da morte á vida. Êxodo 12 narra como os Hebreus celebravam esse acontecimento. Jesus também celebrou a Páscoa judaica, segundo os evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas). E celebrando a Páscoa judaica inaugurou a própria páscoa, sua passagem desse mundo para o Pai. Isso é celebrando de modo intenso na Semana Santa e Domingo de Páscoa. Mas é celebrado igualmente em todas as missas.

Quando se começou a celebrar a Páscoa?

A Páscoa cristã nasceu com a Igreja e a Igreja nasceu da Páscoa. Os primeiros cristãos se reuniam no “dia do Senhor” (todos os domingos) para celebrar a ressurreição e a vida nova que dela decorre. Isso nos leva à consciência de que todo domingo é Páscoa e toda Eucaristia é memorial do mistério pascal. A páscoa propriamente dita – uma data específica e especial – também é celebração antiga. Os textos começam a falar dela por volta do ano 150 d.C.


Qual a mensagem da Páscoa?

Páscoa é vitória da vida sobre a morte. Vitória de Jesus e nossa também. De fato, o Apocalipse o chama de “o primeiro a ressuscitar dos mortos” para uma vida que não termina. Ele é o primogênito de uma grande família, a humanidade. Abriu-nos a porta da ressurreição e da imortalidade.
O capítulo 20 de João – de onde é tirado o evangelho desse dia – oferece uma pista interessante. No 1º dia da semana – domingo – Jesus ressuscita. Pedro e o discípulo amado correm ao túmulo. O Ressuscitado aparece a Maria Madalena e, depois, aos discípulos, comunicando-lhes o Espírito e enviando-os em missão. Tudo isso condensado no dia da ressurreição. No domingo seguinte, aparece aos discípulos e repreende Tomé. Essa insistência no domingo é importante. Em outras palavras, esse evangelho quer dizer que a ressurreição do Senhor iniciou um dia que jamais terminará, o dia em que a vida vai vencendo a morte.

Quais os símbolos pascais?

A COR BRANCA, própria do Tempo Pascal, lembra a vitória do cordeiro imolado, vencedor da morte e do mal, trazendo a paz. A CRUZ vazia ou só com um lençol branco recorda que a cruz não é o fim de tudo, mas o começo de nova era.
O OVO é um dos símbolos pascais mais conhecidos – explorado pelo comércio (se for de chocolate). É símbolo da vida, e a maior célula que existe. Desde os primeiros séculos, por ocasião da Páscoa, era costume presentear as pessoas com ovos enfeitado e coloridos. Ainda hoje os judeus têm no ovo um dos símbolos pascais mais importantes. Ele representa o povo judeu em seu peregrinar sofrido na história: quanto oprimido, mais resistente, assim como o ovo: quanto mais cozido, mais duro.
O CORDEIRO é o símbolo religioso mais antigo da páscoa. No Segundo Testamento, simboliza Cristo chamado de Cordeiro de Deus por João Batista, e imolado na cruz quando no Templo de Jerusalém se iniciava a matança dos cordeiros pascais.
O CÍRIO PASCAL – aceso na Vigília e em todos as celebrações do Tempo Pascal – é associado à luz, e é símbolo do ressuscitado, vencedor das trevas e da morte.
O COELHO não é símbolo religioso de Páscoa. Como símbolo de fecundidade, foi usado na Antiguidade pelos egípcios (os coelhos se reproduzem constantemente, e as fêmeas estão sempre aptas para prenhez)
A COLOMBA ou POMBA PASCAL também não é símbolo religioso, mas comercial. É de origem italiana. Trata-se de um doce tipo panetone, mas no formato de uma pomba.




Fonte: BORTOLINI, José. Por que creio: Quaresma, Páscoa e Pentecostes. 62 perguntas e respostas sobre o ciclo da Páscoa. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2007.
Obs: alguns cortes e adaptações foram feitos pelos catequistas.