por Claudeci Pereira Neto*
Poucas vezes vi pessoas abrindo mão de algum direito. Em tempos eleitorais percebo um desses casos: cidadãos abrem mão do direito constitucional de os demais não saberem em quem irão votar nas eleições.
Provavelmente você já foi questionado em quem irá votar para prefeito ou vereador. A maioria dos “eleitores entrevistadores” nem espera você processar a pergunta e já fala em quem votará e quais os motivos que o levou a tomar aquela decisão.
Não sou contra as pessoas se posicionarem. É também constitucional a liberdade de expressão, desde que ela não fira outro direito. Geralmente quando me perguntam – e olha que não são poucas as pessoas que fazem isso –, para não ser mal interpretado, digo que ainda não sei. Mas essa não é uma boa resposta, pois o “entrevistador” cria asas para pintar de ouro seu candidato. É uma situação muito constrangedora. Melhor seria, num tom amigável, usarmos nosso direito e dizer que o nosso voto será secreto.
Tomar Partido é escolher um lado. Como a própria palavra diz, partido representa uma parte. Uma parte da sociedade está sendo representada. E essa parte tem ou deveria ter um projeto e um modo de governar ou legislar o município. Tomar partido é escolher em qual lado você está. Contudo, não é isso que vejo. As pessoas não tomam partido, mas sim personificam a eleição de tal modo que a maioria desconhecem as siglas dos partidos, o que eles pensam, desconhecem as coligações etc.
Mas a culpa não é somente dos “eleitores torcedores, advogados e entrevistadores”. De fato, nos últimos anos, todos os partidos estão muito parecidos. A busca pelo exercício do poder a qualquer custo tem deixado de lado princípios e bases partidárias. Quando poderíamos imaginar que partidos de esquerda fariam coligações com os de extrema direita? Os partidos, em regra, se aproximam para posições de centro, ou seja, em cima do muro é mais confortável. É mais fácil conquistar eleitores de ambos os lados. Assim a eleição é decidida, por exemplo, pelo uso direto ou indireto da máquina pública como propaganda política, pelo uso direto ou indireto, autorizado ou não, de instituições (como Igrejas e Associação de Moradores), pelo carisma do candidato e pela compra de votos.
De dois em dois anos cidadãos viram bons advogados de seus supostos candidatos... É como se comportassem numa disputa de um campeonato de futebol, em que cada torcedor defende e aposta que seu time será campeão. Seu candidato, se eleito, lhe dá a sensação de vitória... Quantas vezes ouvi essa frase: “pelo menos eu não perdi meu voto!”. Acabou o “campeonato”, esquecem até qual time defendia antes do resultado das urnas.
Ser ativista político não é perguntar as pessoas em quem irão votar. É querer orientar os eleitores na certeza de que o candidato que você escolheu é digno da confiança de todos, pois ele, sendo eleito ou não, trabalhará pelo bem comum. Perceba que a responsabilidade daqueles que defendem certo candidato não é pequena. É se expor ao limite.
Enfim, usemos nosso direito de ficar calados diante de perguntas interesseiras e agucemos mais nossos ouvidos e nossa percepção para escolhermos com tranquilidade nossos candidatos. Usemos mais nosso direito e dever de voz para depois das eleições, quando cobraremos, daqueles que elegemos, nossos direitos coletivos com vista ao bem comum. Para nós cidadãos eleitores, ativistas partidários ou não, fica a sutil proposta de Marthin Luther King, quando dizia: “Não tenho medo do grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. Tenho medo é do silêncio dos bons”. Façamos política respeitando direitos e cumprindo nossos deveres.
*Graduado em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES e mestre na mesma área por esta Universidade.
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