18 de abril de 2010

Creio na Vida Eterna

1 - O que significa “vida eterna”?

Declaramos que, depois de a pessoa ser ressuscitada por Deus, se abrem para ela novas dimensões do ser e novas maneiras de existir. Estas novas dimensões a bíblia chama de vida eterna. Vida eterna é o nome para uma maneira totalmente outra de existir. Esta maneira é possível, porque Deus a faz possível. Ela supera tudo aquilo que conhecemos da vida humana, mas apesar disso, não destrói a natureza da pessoa humana, nem as suas relações históricas. Tudo isso, porém, se vive de maneira totalmente transformada.

Acreditar na salvação, que é a vida eterna, expressa a esperança em poder compreender o ser humano em dimensões maiores do que puramente humanos. Acreditar nela significa ter a coragem de acreditar num Deus que quer fazer da vida humana mais do que aquilo que o homem é capaz de fazer. Significa que também as vidas humanas fragmentadas e incompletas tenham a possibilidade de se tornarem completas e plenas. Tal estado de ser pleno, na linguagem religiosa, é descrito também como Céu. São dimensões existenciais que, conforme a vontade de Deus, não terão mais nenhuma dimensão de negatividade. É vida plena, felicidade plena e realização plena no amor de Deus. Esta dimensão não é ligada nem ao espaço, nem ao tempo. Ela não é acessível aos nossos sentidos, de tal maneira que não a podemos observar, tocar ou situar.

Ela não é resultado do agir do homem. Nenhum de nós é capaz de alcançar a vida eterna pelos próprios esforços. Vida eterna, salvação, união plena e infinita com Deus permanecem, em última análise, sempre dom e graça de um Deus apaixonado por nós. É ele quem ressuscita o ser humano com todas as suas dimensões, com toda sua história e com todas as suas relações vividas. Assim, a pessoa humana que aceitou esta oferta de Deus realmente alcança a salvação, o último e definitivo destino de seu ser, a plenitude da sua vida.

2 – Vida eterna significa presença visível e tocável de Deus?

Mesmo agora, Deus está presente no mundo, mas esta presença não é acessível aos nossos sentidos. Naquela maneira de ser, porém, chamada de vida eterna, tal presença de Deus em todas as coisas e em todas as pessoas se manifesta também para as pessoas humanas “em plenitude”. Ela quebra as fronteiras daquelas dimensões materiais e biológicas que agora ainda nos impossibilitam de percebê-la. A humanidade inteira viverá junto com Deus e em comunhão com Jesus Cristo no Espírito Santo.

3 – Como seremos na vida eterna?

A pessoa ressuscitada passará por uma ampliação inimaginável de todas as dimensões de seu ser. Tudo aquilo que na vida terrestre já podia ser observado como capacidades, atitudes e potencialidades, são como vestígios de um ser que, só pela ressurreição, chegará a sua plenitude. As características positivas das pessoas não serão eliminadas, mas ampliadas e plenificadas. E as muitas e muitas potencialidades que a pessoa nunca na vida podia realizar, enfim se mostrarão não mais como potencialidades, mas como características presentes e ativadas. Toda pessoa, enfim, poderá plenamente ser ela mesma, com todas as suas características e toda a sua maneira típica e original de ser.

Haverá pessoas de todo tipo e de todo caráter, com capacidades diferentes e talentos variáveis. E todas estas pessoas se aceitarão entre si. Todas elas se valorizarão. O pianista permanecerá pianista, o matemático não deixará se ser matemático, e a mãe calorosa e de coração generoso guardará esta característica para toda eternidade. Tudo isso, porém, em escala infinitamente potencializada, de tal maneira que Paulo, como toda razão exclama na sua descrição de Céu: “Nenhum olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais penetrou no coração do homem o que Deus preparou para os que o amam” (1Cor2,9).

A pessoa, agora, ao viver num ambiente marcado e compenetrado pelo amor, tudo o que ela é em termos positivos pode ser vivido em plenitude e é aceito por todos. Todos os elementos negativos, porém, foram eliminados assim como a nossa Igreja o apresenta na sua doutrina do Purgatório. Todos vão aceitar as pessoas como elas são. Não só vão aceitá-la, mas vão abrigá-la, sustentar plenamente e valorizar em toda a sua riqueza.

4 – Será que, na vida eterna, vamos nos encontrar com nossos entes queridos?

Quando dizemos que, na situação de vida eterna, vamos nos encontrar com todas as pessoas que já viveram do decorrer da história humana, fica óbvio que nós nos encontraremos também com os nossos entes queridos. É evidente que todos aqueles que na vida terrena se amaram, de novo vão se reconhecer, e o amor deles, agora, se vai aprofundar e alcançar aquela plenitude que na vida sempre queriam e nunca conseguiram.

5 – O inferno seria então o resultado de uma decisão humana?

A pessoa humana, na atuação de sua liberdade, poderia rejeitar até o último momento tudo aquilo que Deus lhe oferece. Ela poderia negar-se a responder no amor de Deus, fechando-se diante dele; negando-se a ele e rejeitando o seu amor. Esta situação, na linguagem tradicional, é chamada de inferno. Inferno, de certa maneira é “morte eterna”, e neste sentido o totalmente oposto a tudo aquilo que Deus quer para o ser humano. Caso a situação de inferno se concretizasse para alguém, não seria porque Deus o quer, mas porque a pessoa humana assim deseja, rejeitando até o último momento toda proposta de Deus que o poderia salvar. O Papa João Paulo II, na sua homilia de 28/06/99, fala assim da situação de inferno: “(...) Inferno não significa um lugar definitivo, mas a situação daquele que, de maneira livre e definitiva, se afastou de Deus”.

“Nem na Sagrada Escritura, nem na tradição da Igreja se diz de alguma pessoa humana, que esta de fato se encontra no inferno. Em vez disso se apresenta Inferno sempre como possibilidade real, interligada com a oferta da conversão e da vida” (Catecismo para adultos, da Conferência Nacional dos Bispos da Alemanha, 1985).


Fonte: Trechos, com adaptações exclusões, do livro: Creio na Vida Eterna. Autor: Renold Blank. Coleção Por que creio. São Paulo: Paulus, 2007.

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