23 de julho de 2012

A falsa doutrina do Arrebatamento

Muitos fundamentalistas e protestantes evangélicos adotam uma crença conhecida como "O Arrebatamento". Existem muitas variações desta doutrina. A série popular de livros "Deixados para Trás", escrita por Tim Lahaye e Jerry Jenkins, apresenta apenas uma dessas variações. Para defender suas idéias, os partidários do "Arrebatamento" citam alguns versículos genéricos da Bíblia, inclusive 1Tessalonicenses 4,15-17:

"Nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares". 

E também costumam citar 1Coríntios 15,51-52:

"Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados".

Destas mínimas passagens misteriosas resultam predições detalhadas e precisas que preenchem volumes e mais volumes, complementados com calendários, datas, tabelas e gráficos. A versão apresentada nos livros da série "Deixados para Trás" é denominada "dispensionalismo pré-milenarista e pré-tribulacional". Sua proposta consiste em afirmar que no futuro a terra experimentará um reinado de Jesus que durará mil anos. Imediatamente antes deste reinado, os "verdadeiros crentes" serão "arrebatados" por Jesus, ascendendo com Ele de maneira secreta e silenciosa, entra as nuvens. Para eles não importa que a Bíblia mencione uma forte voz e uma trombeta... a maioria dos partidários do "arrebatamento" garante que o evento ocorrerá em segredo.

Esta interpretação exagerada assegura que aqueles infelizes que serão "deixados" sofrerão um período de sete anos de tribulações - uma espécie de última chance para a fé. Ao findar os sete anos, Jesus retornará para uma Segunda Vinda "extra", desta vez com legiões de fiéis. Juntos, derrotarão o Anticristo e iniciarão os mil anos do reinado de Jesus sobre a terra. A ironia disto tudo é que os protestantes crêem que é a Igreja Católica quem sustenta ensinamentos "antibíblicos" (apontando a doutrina católica sobre Maria como o maior exemplo), muito embora a crença no "arrebatamento" seja aceita sem questionamentos e com pouquíssima substância bíblica. É irônico também que muitos protestantes que acreditam que a Igreja Católica alterou os seus ensinamentos muitas vezes no decorrer dos séculos, admitam hoje o conceito de "arrebatamento", sendo que tal doutrina nunca é encontrada na História do Cristianismo, pois não aparece nem na literatura católica, nem na protestante até o século XIX, quando surgiram suas primeiras manifestações nas obras de John Nelson Darby, um ministro fundamentalista que posteriormente se converteu em sacerdote anglicano.

Os ensinamentos da Igreja Católica sobre o fim dos tempos são muito menos detalhados - e ainda muito menos dramáticos - do que os de John Nelson Darby e Tim Lahaye.

É certo que a Igreja sustenta a Segunda Vinda de Jesus. Um exemplo conhecido encontra-se na frase do Credo de Nicéia: "E de novo há de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos"; e há outro na afirmação de São Paulo, de que os crentes serão "levados" até o Senhor. No entanto, no tocante a data e a natureza destes eventos, a Igreja diz muito pouco, uma vez que há certas coisas que são reservadas por Deus:

"As coisas ocultas concernem ao Senhor, nosso Deus; porém, as reveladas, são para nós e para os nossos filhos, para que pratiquemos sempre todas as palavas desta Lei" (Deuteronômio 29,29).

E, como nos adiantou o Senhor Jesus Cristo:

"Quanto ao dia e a hora, ninguém sabe - nem os anjos dos céu, nem o Filho, mas apenas o Pai" (Mateus 24,36).

Para ter uma ideia mais detalhada sobre o ensino magisterial da Igreja sobre o fim dos tempos, leia os parágrafos 671 a 679 do Catecismo da Igreja Católica.

Traduzido para o Veritatis Splendor por Carlos Martins Nabeto diretamente do site Vox Fidei.

Leia abaixo o que ensina a Doutrina Católica em nosso Catecismo.

... À ESPERA DE QUE TUDO LHE SEJA SUBMETIDO

§ 671 Já presente em sua Igreja, o Reino de Cristo ainda não está consumado "com 
poder e grande glória" (Lc 21, 17) pelo advento do Rei na terra. Esse Reino é ainda atacado 
pelos poderes maus, embora estes já tenham sido vencidos em suas bases pela Páscoa de 
Cristo. Enquanto tudo não for submetido a ele, "enquanto não houver novos céus e nova terra, 
nos quais habita a justiça, a Igreja peregrina leva consigo em seus sacramentos e em suas 
instituições, que pertencem à idade presente, a figura deste mundo que passa, e ela mesma vive 
entre as criaturas que gemem e sofrem como que dores de parto até o presente e aguardam a 
manifestação dos filhos de Deus". Por este motivo os cristãos oram, sobretudo na Eucaristia, para 
apressar a volta de Cristo, dizendo-lhe: "Vem, Senhor" (Ap 22,20).

§ 672 Cristo afirmou antes de sua Ascensão que ainda não chegara a hora do 
estabelecimento glorioso do Reino messiânico esperado por Israel, que deveria trazer a todos os 
homens, segundo os profetas, a ordem definitiva da justiça, do amor e da paz. O tempo presente 
é, segundo o Senhor, o tempo do Espírito e do testemunho mas é também um tempo ainda 
marcado pela "tristeza" e pela provação do mal, que não poupa a Igreja e inaugura os 
combates dos últimos dias. É um tempo de expectativa e de vigília. 

O ADVENTO GLORIOSO DE CRISTO, ESPERANÇA DE ISRAEL

§ 673 A partir da Ascensão, o advento de Cristo na glória é iminente, embora não nos 
"caiba conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade" (At1,7). 
Este acontecimento escatológico pode ocorrer a qualquer momento, ainda que estejam "retidos" 
tanto ele como a provação final que há de precedê-lo. 

§ 674 A vinda do Messias glorioso depende a todo momento da história do 
reconhecimento dele por "todo Israel". Uma parte desse Israel se "endureceu" (Rm 5) na 
"incredulidade" (Rm 11,20) para com Jesus. São Pedro o afirma aos judeus de Jerusalém depois 
de Pentecostes: "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, a fim de que sejam apagados os vossos 
pecados e deste modo venham da face do Senhor os tempos de refrigério. Então enviará ele o 
Cristo que vos foi destinado, Jesus a quem o céu deve acolher até os tempos da restauração de 
todas as coisas, das quais Deus falou pela boca de seus santos profetas" (At 3,19-21). E São Paulo lhe faz eco: "Se a rejeição deles resultou na reconciliação do mundo, O que será o acolhimento 
deles senão a vida que vem dos mortos?" A entrada da "plenitude dos judeus" na salvação 
messiânica, depois da "plenitude dos pagãos, dará ao Povo de Deus a possibilidade de "realizar 
a plenitude de Cristo" (Ef 4, 13), na qual "Deus ser tudo em todos" (1Cor 15,28). 

A PROVAÇÃO DERRADEIRA DA IGREJA

§ 675 Antes do advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que 
abalar a fé de muitos crentes. A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra" 
desvendará o "mistério de iniqüidade" sob a forma de uma impostura religiosa que há de trazer 
aos homens uma solução aparente a seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A 
impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em que o 
homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne.

§ 676 Esta impostura anticrística já se esboça no mundo toda vez que se pretende 
realizar na história a esperança messiânica que só pode realiza-se para além dela, por meio do 
juízo escatológico: mesmo em sua forma mitigada, a Igreja rejeitou esta falsificação do Reino 
vindouro sob o nome de milenarismo, sobretudo sob a forma política de um messianismo 
secularizado, "intrinsecamente perverso".

§ 677 A Igreja só entrará na glória do Reino por meio desta derradeira Páscoa, em que 
seguirá seu Senhor em sua Morte e Ressurreição. Portanto, o Reino não se realizará por um 
triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre 
o desencadeamento último do mal, que fará sua Esposa descer do Céu. O triunfo de Deus sobre 
a revolta do mal assumirá a forma do Juízo Final depois do derradeiro abalo cósmico deste 
mundo que passa. 

II. Para julgar os vivos e os mortos

§ 678 Na linha dos profetas e de João Batista, Jesus anunciou em sua pregação o Juízo 
do último Dia. Então será revelada a conduta de cada um e o segredo dos corações. Será 
também condenada a incredulidade culpada que fez pouco caso da graça oferecida por 
Deus. A atitude em relação ao próximo revelará o acolhimento ou a recusa da graça e do amor 
divino Jesus dirá no último Dia: "Cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais 
pequeninos, a mim o fizestes" (Mt 25,40). 

§ 679 Cristo é Senhor da Vida Eterna. O pleno direito de julgar definitivamente as obras e 
os corações dos homens pertence a Ele enquanto Redentor do mundo. Ele "adquiriu" este direito 
por sua Cruz. O Pai entregou "todo o julgamento ao Filho" (Jo 5,22). Ora, o Filho não veio para 
julgar, mas para salvar e para dar a vida que está nele. É pela recusa da graça nesta vida que 
cada um já se julga a si mesmo recebe de acordo com suas obras e pode até condenar-se 
para a eternidade ao recusar o Espírito de amor. 

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