22 de setembro de 2012

ORIENTAÇÕES SOBRE POLÍTICA 2012

I - Tenho me empenhado, em outros anos eleitorais, em escrever aos católicos desejosos de ouvirem uma palavra orientadora de como se comportar durante as campanhas e principalmente na hora do voto. Este ano, pensava em fazer o mesmo. Porém, os fatos acontecidos ultimamente em nosso País e em nosso Estado quase me desestimularam a falar ou escrever sobre política. Quando penso em certas atitudes de políticos, eleitos pelo povo, de priorizar interesses pessoais com aumento dos próprios salários e tornando cada vez maior o abismo entre os que ganham demais e os que ganham de menos, fico assustado e desanimado. Mas, não podemos perder a esperança! Por isso, decidi escrever, mais uma vez, para todos, mas principalmente, para os eleitores que esperam uma orientação do Arcebispo.

Votar bem é um gesto de resistência, como também uma oportunidade para corrigirmos o erro das escolhas que fizemos no passado ao votarmos em pessoas que nos enganaram e não cumpriram o que se propuseram.

Quando escutamos, vemos ou ouvimos o noticiário político, estremecemos diante de tantas injustiças: salários altíssimos, desvio de verbas públicas, áreas precárias quanto à saúde, assistência social, educação, segurança. Em alguns casos, por falta de projetos e justificativas, em outros por ausência de recursos porque não houve prestação de contas, entre outras situações. Não poucas vezes, quase querendo justificar tudo isso, comenta-se que a sociedade está perdendo seus valores e princípios. É exatamente sobre princípios que escrevo esta carta com recomendações para este ano eleitoral: os Princípios da Doutrina Social da Igreja.

II - A Doutrina Social da Igreja é, no dizer de padre Fernando Bastos Ávila, sacerdote jesuíta e doutor em Ciências Políticas, um conjunto de princípios que a Igreja foi elaborando, ao longo do tempo, na busca de respostas para os “sempre novos problemas sociais”. A Doutrina Social é composta de ensinamentos elaborados a partir do Evangelho para orientar o comportamento e as relações humanas. E quais são esses ensinamentos? São quatro princípios: Dignidade da Pessoa, Bem Comum, Solidariedade e Subsidiariedade. Mas, deles nascem inúmeras normas e vários ensinamentos que orientam o comportamento e a convivência social.

Recordo-lhes alguns desses ensinamentos para que sirvam de orientação aos candidatos e aos eleitores. Aos candidatos que desejam se empenhar em projetos que venham a somar para uma melhoria social. Aos eleitores para que estes saibam em que se basear para escolher os candidatos. Espero, sinceramente, que estes princípios nos ajudem a votar com responsabilidade e a escolhermos bem o candidato que receberá nossa procuração para exercer o mandato no exercício do bem comum. Tomem nota: o voto é uma procuração que o eleitor dá ao seu candidato!

1. Como podemos saber se o candidato respeita a dignidade da pessoa? O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus. Sendo imagem de Deus, a pessoa não é uma coisa, e não pode ser tratada como uma coisa. A pessoa humana é alguém! A pessoa é o centro de todas as instituições sejam econômicas, sociais, religiosas, culturais ou políticas. Todas as instituições devem ser colocadas a serviço da pessoa!

Portanto, antes de darmos o nosso voto precisamos saber:

  • O candidato respeita o direito à vida desde a concepção até seu fim natural? 
  • Nos seus relacionamentos familiares, de trabalho, com os membros de seu partido e de outros partidos, existe respeito pelo pessoa humana? 
  • Se o candidato já exerceu mandato, como foi seu relacionamento com a sociedade? Ele foi porta-voz das necessidades dos eleitores? 

2. A pessoa humana não se realiza sozinha, mas em grupo, em comunidade. Buscar o bem comum deve ser o grande objetivo de quem se candidata a um cargo político e de quem vota.

Portanto, antes de darmos o nosso voto a um candidato precisamos estar seguros de que:
  • O candidato preocupa-se com a construção da paz. 
  • Os interesses que o candidato defende trazem benefícios para a maioria da população. 
  • Nos projetos e no discurso o candidato tem propostas relacionadas à assistência social, educação, transporte, saúde, informação, liberdade religiosa e respeito à vida humana desde a concepção até seu fim natural. 
  • O candidato conhece as competências do cargo que pretende exercer e qual a relação com outras esferas do Poder. Isto é, como o Vereador e a Câmara de Vereadores se relacionam com o Prefeito e o Poder Executivo, como o Deputado e a Assembleia Legislativa se relacionam com o Governador. 
  • Se o candidato já exerceu mandato averiguar como se comportou na defesa de direitos e princípios, se apoiou ou criou leis para seu próprio benefício, se privilegiou parentes ou colegas de partido. O bem comum exige renúncia a vantagens pessoais e privilégios para apenas alguns. 

3. Candidatar-se a um cargo político é colocar-se a serviço do bem comum. É propor-se a servir a pessoa e a sociedade como se fosse o próprio bem. É contribuir para que se crie uma rede de solidariedade, de tal forma que, as desigualdades diminuam e cresça a igualdade entre todos.

Então, procure saber qual é a história de vida do candidato, pergunte-se e observe:
  • O candidato militou em sua juventude ou idade adulta em associações, projetos sociais ou filantrópicos? 
  • Colocou-se a serviço de comunidades carentes, programas de inclusão social, campanhas de solidariedade por ocasião de enchentes ou outros desastres naturais? 
  • No exercício de sua profissão, teve alguma atitude ou comportamento de solidariedade com os que dele precisaram? 
  • O que o candidato tem, em sua história de vida, que demonstre essa preocupação com os outros? 

4. Cada instância de governo tem determinadas quais as funções e obrigações de sua competência. Isso é importante para que cada um cumpra o seu papel. Madre Teresa de Calcutá dizia que se cada parcela da sociedade cumprisse com suas obrigações, a assistência que ela e suas irmãs prestavam aos pobres não seria necessária. Esse compromisso de todos deve ser exercido de maneira ordenada, a começar por aqueles que estão nos cargos mais elevados. Todos podem e devem fazer algo pelo bem de todos.

Então, observe e certifique-se que o candidato:
  • Fala com clareza sobre as funções do cargo que pretende ocupar. 
  • Quando apresenta projetos menciona quem serão seus parceiros. 
  • É um incentivador provocando a participação de todos no interesse comum. 
  • Conhece os direitos e os deveres das outras instâncias do governo (municipal, estadual, secretarias, etc) com quem precisará dialogar. 

III - Talvez você, que leu esta carta até aqui, se pergunte neste momento: Mas como obter todas essas respostas?

O jeito é começar já a observar os candidatos e procurar informações sobre as histórias de vida daqueles que estão mais próximos.

Faço-lhes, ainda, algumas recomendações a serem observadas nos espaços celebrativos:
  • A Igreja não tem partido. Isso significa que nenhum candidato pode apresentar-se como representante da Igreja. 
  • Os leigos candidatos jamais poderão usar do serviço que a Igreja lhes confiou para se promoverem politicamente ou fazerem propaganda de seus candidatos. 
  • Jamais se utilizem do Culto Litúrgico para promover alguém a algum cargo político. 
  • Não usem emblemas, ou qualquer tipo de propaganda, em favor de algum candidato no recinto da Igreja. 
  • O Presbítero, diante da Comunidade Eclesial celebrativa, é homem de comunhão. Tem a missão de unir a todos na mesma fé, presidindo dignamente a Celebração Litúrgica. Por isso, ele está impedido de assumir qualquer facção político-partidária. 
  • Se o pároco julgar oportuno poderá promover debates no salão paroquial, obedecendo as regras que o Tribunal Eleitoral estabelece. Fora das celebrações, em particular, qualquer padre, como cidadão livre que é, tem todo direito de escolher seus candidatos e aconselhar as pessoas que pedirem orientação. 
  • Peço aos padres que não entrem em campanhas públicas, como em caminhões e outros veículos em defesa e propaganda de algum político. 
  • Tomem cuidado para não se deixar vincular com políticos que contradizem a nossa pregação dos valores cristãos. 
  • Fique claro a todos os irmãos e irmãs: nem os presbíteros, nem os diáconos poderão se candidatar a algum cargo político em nossa Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo. Qualquer desobediência neste sentido será motivo de advertência. Insistir na desobediência levará ao impedimento do exercício do ministério eclesiástico. 
  • Os religiosos não clérigos estão sujeitos à legislação de suas respectivas Famílias Religiosas, como também da Arquidiocese. 

Irmãos e irmãs, que as eleições de 2012 sejam um momento alegre de vivência plena da cidadania. Escolhamos nossos candidatos com muita responsabilidade e conhecimento para evitarmos tristezas e revoltas no futuro próximo. É tempo de festa e de exercício de nossa fraternidade cidadã. Comemoremos, também, a validade da Ficha Limpa para esta eleição. Ela é, como já disse em outra ocasião, uma homenagem aos Políticos.

Deus abençoe a todos e Nossa Senhora das Alegrias, a Virgem da Penha, nos ensine cada dia a vivermos a nossa identidade cristã.

Nos Sagrados Corações,

Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc.
Arcebispo Metropolitano de Vitória - ES

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