2 de maio de 2010

Creio na Comunhão dos Santos

Todos os povos buscaram, por meio de suas práticas religiosas, entender o destino humano depois da passagem pela história humana. Mais ainda, todos os povos praticaram ritos que pudessem propiciar o reencontro com seus antepassados. Essas doutrinas e esses ritos serviram para sempre para tornar mais suave a despedida e amenizar o sofrimento da ausência. Tantos povos criaram doutrinas totalmente ilógicas e nelas acreditam, pois a vulnerabilidade humana diante da morte gera fantasias e doutrinas inconsistentes. A unidade entre os dois universos – temporal e espiritual – realiza-se por acenos e jamais pela fuga total deste mundo ou pela volta física dos que partiram.
Nossa resposta vem de nossa fé mais profunda: Deus se encarnou em Jesus Cristo e seus fiéis e toda humanidade unida a Ele, misticamente, pôde entrar em comunhão com aqueles que são remidos por Ele no paraíso.

A comunhão dos santos não se refere o que seria muito simples, à unidade entre os que foram canonizados pela Igreja, mais integra toda a “multidão infinita” de fiéis “lavados pelo Sangue do Cordeiro” na linguagem do Apocalipse (Ap 12,11; 1Jo 1,7). Mais ainda, a comunhão dos santos não é apenas a integração dos cristãos entre si na Igreja caminhante; quando vivemos os mesmos ideais, somos batizados no mesmo Senhor e comungamos na mesma mesa da Eucaristia.
Pela profissão de fé, rezamos que a comunhão dos santos unifica em Deus os fiéis que estão na glória divina, como Igreja triunfante, que espera a redenção proclamada pelo Filho de Deus, e os fiéis caminhantes, que edificam na história o Reino de Deus. O Espírito Santo vivifica e fecunda permanentemente esta comunhão dos fiéis.
Quando rezamos pelos santos, exercitamos a comunhão com os redimidos por Deus; falamos de tantos santos, que protagonizaram neste mundo a construção do Reino de Deus. Entre tantos, recordamos Maria, a Mãe de Deus, como protótipo dos redimidos. Poderíamos elencar uma imensidão de nomes, homens, mulheres, monges, leigos, pastores, tantos que foram declarados santos pela Igreja. Rezamos também por aqueles que, em nossa esperança, temos a certeza de que estão juntos de Deus e foram por Ele glorificados.

Rezando pelos que faleceram, unimo-nos também aos que esperam sua glorificação, contando com a misericórdia divina. É saudável rezar pelos falecidos (2Mc 12,48). Rezamos pelos vivos, que caminham conosco e buscam o rosto de Deus. Somos uma família espiritual, contando miríades e miríades de seres humanos que formam o corpo místico de Deus.

Vivendo a comunhão dos santos, compreendemos que jamais estaremos abandonados e ou na solidão. Nunca abandonados, pois Deus estará sempre conosco. Nem mesmo na solidão, pois estamos unidos, pelos laços da fé; á multidão de santos fiéis que congregam conosco a família de Deus, a comunidade dos fiéis.

A comunhão dos santos é uma profissão de fé dos cristãos. Os cristãos se sentem unidos aos seus antepassados pela fé. Como Jesus integra essa unidade dos seus seguidores?

Comunhão significa “comum união”, e Comunhão dos Santos significa também a união de todos os santos do céu, das almas do purgatório e dos cristãos que professam a fé ainda na terra, junto a Jesus Cristo. Portanto, é a união de todos os santos juntos, os da terra que oram e clamam pelos santos do céu, solicitando sua intercessão, pedindo sua ajuda, louvando-os e rezando pelos mortos que estão no purgatório, e os do céu, que acabam intercedendo por todos, também, junto a Jesus Cristo.

A COMUNHÃO DOS SANTOS E OS SACRAMENTOS

A Igreja nos ensina que “o nome comunhão pode ser aplicado a cada sacramento, pois todos eles nos unem a Deus. Contudo, mais do que a qualquer outro, este nome convém à Eucaristia, porque é principalmente ela que consuma esta comunhão” (CIC n.º 1331). Por este sacramento, nos unimos a Cristo e nos tornamos participantes de seu Corpo e Sangue, para formarmos um só corpo. Conforme nos ensina a tradição, os sacramentos são denominados “coisas santas” e propiciam a comunhão dos santos. Jesus Cristo, sendo a Cabeça da Igreja, reúne os cristãos como membros deste corpo, onde participamos do sacramento que nos une ao Senhor, fazendo parte do seu Corpo e do seu Sangue, para formarmos um só corpo.

A fileira dos santos canonizados na Igreja é muito extensa e maravilhosa, pois eles enriquecem nossa espiritualidade. Como começou o culto aos santos nos primeiros tempos da Igreja?

O primeiro mártir de nossa fé é o próprio Cristo. Ele é o coração da comunhão dos santos. Os primeiros santos cultuados são os mártires, verdadeiros seguidores radicais de Cristo. Estão na comunhão dos santos, pois viveram a fé mesmo diante da morte, com coragem. A comunidade dos primeiros cristãos celebra a memória desses mártires, perseguidos por causa da fé e por não aceitarem a deificação dos imperadores nem os cultos pagãos. Em nossa tradição, a comunhão dos santos mártires e sua memória vêm celebradas no seu dies natalis, que quer dizer o dia de seu nascimento para a vida eterna.
Os primeiros cristãos tinham grande apreço por seus mártires, sendo estes exemplos de coragem e de grandeza diante dos perseguidores e algozes. Recordavam suas vidas e suas façanhas, guardavam e veneravam suas relíquias, erguiam monumentos e capelas em sua honra e dedicavam-lhes culto de veneração. Sem medo de cair em idolatria, os cristãos sempre cultuaram seus mártires e seus santos, pois tinham certeza de que o culto de adoração é prestado somente a Deus.

A comunhão dos santos congrega todos os fiéis falecidos que viveram no amor e na graça de Deus. Nem todos são canonizados. Por que a Igreja escolhe alguns fiéis para publicamente declará-los santos?

Muitas vezes, nos indagamos: por que esses santos são canonizados, uma vez que temos tantas pessoas santas em nossas comunidades? Essa questão não é difícil de responder, o número de santos é incontável, como diz o Apocalipse: “são miríades de miríades” (Ap 5,11).

TRAJETÓRIA DO PROCESSO

Como são assumidos como “modelos no seguimento de Jesus”, os pastores da Igreja procuram canonizar fiéis nas várias modalidades da prática cristã, quer sejam pastores, padres, religiosas, pais, mães e mesmo jovens ou crianças, para que suas vidas sirvam de iluminação para que os vivos imitem seus passos na busca da santificação.
Os nomes escolhidos são alguns entre milhões, daqueles que estão na glória de Deus, que são nossos intercessores e vivem em comunhão de fé com todos nós.

Nós cristãos acreditamos na presença dos fiéis falecidos junto a Deus. O coração de nosso culto é a pessoa de Jesus Cristo, ao qual elevamos nossas preces e louvores. Mas manifestamos nossa devoção aos santos e aos falecidos. Como o culto aos mortos se integra na comunhão dos santos?

Cultuar os mortos não é sinal de idolatria, pois o culto é uma expressão de ritual e reverência. Não se trata de adoração, nem aos mortos, que esperam a redenção, nem aos santos, que acreditamos estar na glória de Deus. Adoração é um culto que prestamos apenas a Deus, em Jesus Cristo.
Tudo isto é uma visão humana de nossa fé e um ensinamento da Igreja, pois a vida depois da morte é um mistério que apenas o Cristo nos revelou, e é a Igreja que transmite esses ensinamentos aos seus fiéis.
Nossas comunidades celebram a fé e fazem memória de seus falecidos, pois cremos que eles repousam em Deus. Nós cremos na comunhão dos santos e, quando rezamos pelos falecidos, entramos em comunhão com eles, unimo-nos a eles nas preces e em outros momentos propícios, pois são meios de compormos com eles a comunhão dos santos para celebrar nossos rituais ao redor do Senhor.
Acreditamos, sinceramente, que os mortos estão pertinho de nós e entramos em comunhão conosco quando prestamos cultos a Deus, especialmente na celebração eucarística.

A comunhão dos santos contempla as orações pelos fiéis que esperam pela sua redenção. Por que rezamos missas para comemorar algumas datas de falecimento? Há importância para a comunhão dos santos?

Todas as formas de celebração que conferimos aos nossos rituais são, antes de tudo, resquícios de nossas tradições e de nossa religiosidade popular. Sabemos que essas formas são apenas caminhos escolhidos para celebrarmos o nosso culto a Deus.

DUAS RAZÕES PARA A CELEBRAÇÃO DO SÉTIMO DIA

1. O “sétimo dia” representa o fim dos tempos. Simbolicamente, nesse dia, o falecido se apresenta diante de Deus para seu julgamento. A comunidade dos fiéis suplica para que ele possa obter misericórdia divina.
2. Nos tempos antigos, com grande influência da vida rural, quando falecia um membro da família, não havia tempo para uma celebração com todos os parentes distantes. Assim, dava-se o sepultamento e, no “sétimo dia”, todos os familiares e amigos se reuniam no cemitério ou numa capela para uma cerimônia de adeus. Normalmente, essa celebração era a missa.

Na comunhão dos santos, não só nos unimos a todos os “filhos de Deus” de todos os tempos, mas também a todas as suas criaturas que contemplam sua face na glória dos céus. Os anjos são mensageiros divinos que vivem em Deus, como seus servos. O que o culto dos anjos tem a ver com a comunhão dos santos?

Todos os seres criados são membros verdadeiros dessa comunhão dos santos. Como estamos em comunhão com os santos, estamos em comunhão com os anjos. A misericórdia divina é tão grande que a comunhão dos santos é muito maior que nossa inteligência possa compreender.

A METÁFORA DO CORPO MÍSTICO

Como existe uma interação entre os membros do corpo e todos estão interligados entre si pelos músculos, e mais particularmente pelo sangue, que integra todos os membros, pode-se dizer que existe uma total integração entre os membros da comunidade. Todos nós somos partes do corpo místico de Cristo. Cada membro é um ser individual, mas está unido aos outros pelo “sangue da fé”, que torna esse corpo integral e unificado.
Somos um corpo místico; unidos pela fé em Jesus Cristo, participamos da ressurreição e vivemos em comunhão.
Como o corpo humano integra membros físicos, ou materiais, e seres espirituais, sentimentos e emoções, todos integrados na mesma pessoa, a comunhão dos santos integra os fiéis em todas as suas etapas da existência, como filhos de Deus.

Como os fiéis se integram na comunhão dos santos? Todos podem participar dessa unidade dos cristãos?

A comunhão dos santos se enraíza na consagração batismal. Esta é a profissão de fé da Igreja desde suas origens, pois o batismo é consagrado a Deus, no qual se realiza a comunhão dos santos. Através desse sacramento, todas as criaturas que foram batizadas passaram a fazer parte do corpo místico de Cristo.
Ninguém é excluído, a não ser que deliberadamente rejeite o amor de Deus na sua vida de forma absoluta.

Quando falamos em comunhão dos santos, acreditamos que nós todos somos santos em vista de nossa consagração bastimal. Assim, cremos que os santos intercedem por nós junto de Deus. Como é esta intercessão dos santos que estão junto de Deus?

Os santos, na concepção cristã, são os fiéis que nos que antecederam na “festa do Cordeiro”, e que, estando a Deus intercedem por nós e servem de modelos no seguimento de Jesus Cristo. O maior exemplo é a vida de Maria, Mãe de Deus.
Antes de tudo, afirmamos categoricamente que o verdadeiro santo e único santo é Jesus Cristo, e todos os santos são santificados em Seu nome e, fora de sua santidade, ninguém é santo, ninguém pode ser salvo (Jo 10,29).
Os santos, como concebemos em nossa fé, são fiéis que buscaram viver com coerência sua cristandade e praticaram o bem. Mesmo que tenham cometido pecado, foram humildes na busca do perdão divino para seus erros. Mais simples ainda é a representação iconográfica dos santos, que tem a função pedagógica de nos aproximar do mistério divino.

Quando falamos em comunhão dos santos, acreditamos na união entre os vivos e os falecidos, considerando a união pela fé em Jesus Cristo. O que podemos afirmar da comunhão dos vivos com os falecidos?

Fundado nossa fé sobre essa reflexão, reconhecemos que os falecidos repousam no Senhor á espera de sua redenção. Eles não estão mortos, mas repousam no Senhor, enquanto aguardam a redenção definitiva de suas vidas. Quer vivamos, quer soframos, quer morramos, pertencemos ao Senhor, por seu amor e por nossa fé, vivemos em comunhão com os falecidos que estão unidos em nossa memória, como a família espiritual de cristãos.

Como fica a comunhão dos santos quando se trata de pessoas que morreram no pecado? O que ensina a doutrina cristã?

A comunhão dos santos não exclui os falecidos que morreram no pecado. Antes de tudo devemos considerar que todos somos pecadores e que urgimos a misericórdia divina para nos redimir, já que o pecado é uma triste realidade de nossas vidas. Mas “onde foi grande o pecado, foi bem maior a graça” (Rm5, 20). Não pode haver pecado tão cruel que sua maldade não possa ser redimida pela infinita bondade do Pai misericordioso.

Fonte: S. BOGAZ, Antônio; H. HANSEN, João. Creio na comunhão dos santos: unidade mística entre fiéis do céu e da terra. Ed. Paulus - 2008 (adaptações)

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